Resenha: A Noiva de Papelão.

Autor: Flavio P. Oliveira
Editora: Delirium
Ano: 2015
Páginas: 160
Sinopse: A vizinha do 305, no quarto escuro, uma borboleta tatuada, o trauma. Todos têm amigos imaginários. Ele socorre o senhor Goiabada, e o doutor Heriberto Gusmão aceita e aprova a ex-noiva em papelão. O trauma, o verme da goiaba, o avô das incríveis fábulas de sapos cor-de-rosa, misto-quente. Escreva no caderno a pior história de sua vida, recorde o apagado… Ele sente as pessoas desaparecem quando toma os comprimidos, e o marmota não envelhece, a vizinha sorri com malícia; delícia. O ex-padrasto bêbado, a mãe promotora de justiça sendo ameaçada, o fusca e o elefante branco; personagens e/ou personificações de traumas esquizofrênicos.

Resenha:

Quando a saudade aperta no coração do nosso protagonista (não revelarei nome para manter a magia do livro), ele resolve criar a imagem em escala real da sua noiva, imprimindo-a em papelão. O que sabemos logo de início é que ele foi rejeitado pela mulher amada, pediu-a em casamento, mas recebeu um “não” como resposta.  Com o decorrer da narrativa, alternando-se entre passado e presente, numa linha não tão cronológica assim, vamos descobrindo um pouco mais sobre nosso protagonista.




"Aprendo mais nos erros que nos acentos circunflexos, especialmente se em dia de comprimidos e remédios."




Entre uma mãe promotora sofrendo ameaças, uma irmã mais velha que o chama de pirralhinho e uma vizinha de sorriso enigmático e dona de gatos siameses, vivem também o sr. Goiabada, o marmota, o porco-espinho, eventualmente um dinossauro,  o verme da goiaba, lembranças de um ex-padrasto bêbado vomitando em sua roupa de formando, o quarto escuro e tatuagem de borboletas, as histórias do avô sobre um elefante branco e alecrins, um sequestro… Mas um bom bocado disso é pura imaginação do personagem.




Aplausos na televisão me incomodam — sou chato, rabugento e um tanto quanto igual aos demais no quesito chatice, rabugices e excentricidades. O marmota acompanha os aplausos e me irrita.




Quando a noiva de papelão não suprime mais seus anseios de carinho, ele começa a enxergar Manuela — a vizinha dos gatos siameses —, mas ainda assim se nega a se desfazer da imagem em escala real de Magnólia — a noiva de papelão —, que é, no entanto, o ponto central da história e a causadora de tudo. Impressa em escala real, o médico dos comprimidos aceita-a como forma de tratar os traumas, e lhe propôs uma tarefa, acreditando em uma cura: escrever a pior história de todas em seu caderno.



Dói ser silencioso em um mundo de gritaria (…).



Enquanto o autor nos conduz por fatos atemporais na história, numa narrativa peculiar e, diria, quase poética, os retalhos dessa incrível história vão se juntando para um incrível desfecho.  


Considerações pessoais:

A Noiva de Papelão foi o terceiro livro que li do autor (anteriores: Talvez Nunca Mais um País e Uma Princesinha no País das Maravilhas), então quando me deparei com a escrita meio doida, meio poética já estava habituada. Flavio mantém seu estilo de escrita, surpreende e se supera com uma história incrível e com um desfecho inesperado. Uma das peculiaridades da história nem é somente a narrativa, mas o fato de sabermos o nome do protagonista somente na última página do livro. No entanto (comentei o mesmo sore TNMuP), a leitura é tão agradável, fácil, divertida, interessante e instigante que o nome do personagem (ou dos personagens, pois também não sabemos o nome de sua mãe, irmã…) parece trivial na história. É algo que não faz falta e você só dá conta do ocorrido exatamente na última página, quando, por fim, o autor nos revela o nome do protagonista.

A narrativa do autor, como já comentado, é meio doida, com fatos atemporais, parágrafos inseridos fora de contexto ou ordem cronológica dos acontecimentos, sentenças invertidas, pitadas de bom humor… O que não atrapalha de forma alguma a leitura. Na verdade, acho que o autor te força a ler com mais atenção para entender a história, e isso é um ponto positivo, pois, quando você lê mais devagar, com mais atenção, você aprecia melhor a história e a narrativa genial do autor. Além dessas doideiras todas, também gostei da narrativa em primeira pessoa, mas como se o protagonista estivesse contando sua história não para um leitor, mas para a noiva de papelão, para a Magnólia.



“Eu voltei do passeio, busquei Manuela na porta do colégio, andamos em algumas lojas atrás de borboletas, e você desapareceu… Você estava deitada em cima do guarda-roupa”.



 Um romance que pra mim foi meio doido, muito fofo, completamente incrível e indicadíssimo!  

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